COMO SE DESPEDIA HÁ 41 ANOS.

Nunca foi saudosista, mas tenho que reconhecer que há quase meio Século, a Ditadura tratava - embora com algum cinismo encapotado - de uma forma "polida e elegante" quem trabalhava.

O meu Pai regressara de Moçambique em Novembro de 1966, após sugestão da Frelimo. Primeiro, colocou cá a família em 1964, tendo permanecido mais 2 anos. Aos 38 anos tinha muito que lutar. Despediu-se de Moçambique com esta foto, junto a um Embondeiro, na companhia do irmão mais novo 15 anos. O Tio Artur.

O meu Pai ainda era do "tempo antigo", em que os apelidos não eram obrigatórios, na Terra onde nascemos. Se verificarem, ele tinha o nome JOSÉ JOAQUIM e o apelido aparecia entre parêntesis - BORGES - porque era filho de Anibal da Trindade, dos Borges. E eu depois já herdei o apelido, embora na certidão de nascimento tenha filho de José Joaquim ou de José Borges!!!! Mas sou filho Dele, porque as caras nunca enganaram.

Nas Minas do Inglês, como já aqui descrevi, ele começou como Jardineiro dos Patrões, ainda jovem. Foi para Moçambique sem saber que ia e depois quando regressou, os mesmos Patrões deram-lhe o posto de "encarregado fiel de Cantina, com cargo no movimento de contabilidade e controle dos respectivos stocks", durante dois anos.

Dizem os Patrões que o meu Pai "foi sempre um bom empregado, disciplinado e cumpridor dos seus deveres. Saiu por ter encerrado a nossa exploração". Exploração do minério, claro!

A data de cessação do contrato é antecipada, exactamente 8 anos relativamente ao seu falecimento, com apenas 48 anos de idade.

PAI, ESTA PEQUENA HOMENAGEM DO TEU FILHO QUE TU QUISESTE ENGENHEIRO E NÃO ADVOGADO OU MÉDICO. FIZ-TE A VONTADE, MAS TU JÁ NÃO ASSISTISTE CÁ NA TERRA À ENTREGA DO MEU CANUDO. TAL COMO TU, EU TENTO IMITAR-TE COMO "BOM EMPREGADO, DISCIPLINADO E CUMPRIDOR". AFINAL, A GENÉTICA NÃO SE ENGANA. ONDE ESTÁS, SEI QUE ESTÁS TODOS OS DIAS, TU E A MÃE MARIA, COM OS TEUS FILHOS, NETOS E BISNETA. ATÉ SEMPRE, PAI.