Há 46 anos quando regressei de Moçambique fui parar à aldeia natal - Nuzedo de Baixo, Concelho de Vinhais - e ingressei na escola primária, onde havia mais cerca de 80 miúdos com idade escolar que à data ia até aos 14 anos. Esta aldeia mineira tinha, à data, cerca de 1000 habitantes, fruto da mão-de-obra que a Mina utilizava. Era um polo industrial importante pois aí se extraía estanho e volfrâmio. A vida compatibilizava-se entre a Mina e a Agricultura. Sobrevivia-se.
Existia uma só professora primária para esta malta toda - A Sra D. Alfredina Fernandes. Já havia sido a professora dos meus pais e da maioria da população, uma vez que tinha cerca de 50 anos de serviço. As salas de aula eram frias no Inverno - só suportável porque os pais arranjavam as braseiras. Os exames eram obrigatoriamente feitos no final de cada trimestre, numa aldeia ao lado o que obrigava a miudagem a fazer uma caminhada de 5 km, para cada lado e por montes, com regresso na noite do mesmo dia. Isto porque a D. Alfredina não tinha a chamada "sexta-classe". Só tinha a 4ª classe. Mas daquelas antigas, que obrigavam a malta saber nomes dos rios, das montanhas, das linhas de caminhos de ferro - nacionais e ultramarinos. E a História de Portugal na ponta da unha, para além de uma tabuada afinadíssima - cantada em uníssono pelas turmas. E às 5asf havia também o dia da MP - dia sagrado para se cantar: " Cá vamos cantando e rindo....levados levados sim...".
Passados estes anos, fico feliz por saber que há uma escola primária com condições, apesar da desertificação deste interior do Nordeste Transmontano. São apenas 6 alunos e 1 professora. Mas estão mais perto de todos e sobretudo do Mundo, porque têm 1 COMPUTADOR. Pena é que a população só possa gerar tão poucos alunos. Eu sei porquê: são poucos os jovens que ficaram a acompanhar os cerca de 100/120 habitantes, envelhecidos e marcados pelos males da Mina.
O meu coração ainda está em Nuzedo de Baixo. Além de familiares e parentes vivos, jaz alí o meu pai.
4 comentários:
É sempre bom recordar a terra onde nascemos e manter raizes. Infelizmente há muitas aldeias assim e a malta vem para Lisboa e Porto e esquece o passado.
ZL
Ainda bem q os srs do Min. da Educação n cederam à tentação de poupar uns euros c o salário de uma professora só p 6 alunos e n mandaram encerrar a escola!
Se o tivessem feito, provávelmente estas crianças estariam a fazer uns bons kms (apesar de, agr, haver os famosos tranportes escolares, qtas vezes s as condições mínimas de segurança p o tranporte de menores de 12 anos!!!)p irem frequentar outra escola da região e formarem uma turma de 30 alunos onde, forçosamente, o ensino seria mto menos individualizado e adequado às necessidades de cada um, p além do tempo dispendido nas viagens e do inerente cansaço.
E o computador, como tu dizes e bem, ligado à Internet, será uma boa ferramenta de trabalho e uma porta p o Mundo, um abrir de horizontes para esses meninos q, conhecendo eu a aldeia como conheço, continuam "fechados" numa terra q tem vindo a morrer aos poucos... Possam eles, um dia, usar os seus conhecimentos p mudar algo neste país real!!! Se bem q eu ache q será preciso mto mais q os sonhos q as viagens pela net possam despertar... é preciso vontade política!
Por mto q se amem e n se esqueçam as raízes, há afastamentos q n se conseguem evitar...e é pena!
E digo eu isto, q sou uma "sem terra" pq qm nasce e é criada em Lx, é um pouco deserdada à nascença dessa coisa bonita q é dizer "Vou à minha terra!".
Bjinhos, meu querido.
Uma amostra do País real, que se repete por tantos lugares de Norte a Sul.
Uma boa acção de um Governo que é fustigado mas que em pequenos detalhes mostrou a diferença. Interessante.
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